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Fernando Pessoa (1888-1935)

 
  
Na sombra do Monte Abiegno In the shadow of Mount Abiegnos
  
Na sombra do Monte Abiegno In the shadow of Mount Abiegnos
Respousei de meditar. I rested to meditate.
Vi no alto o alto CasteloI saw on high the high Castle
Onde sonhei de chegar Where I dreamed of arriving
Na sombra do Monte Abiegno. In the shadow of Mount Abiegnos.
  
Quando fora amor ou vida,When it was love or life,
Atrás de mim o deixei, I left it behind me,
Quando fora desejá-los, When it was desiring them,
Porque esqueci não lembrei.Because I forgot I did not remember.
A sombra do Monte AbiegnoThe shadow of Mount Abiegnos
Repousei porque abdiquei.I rested because I resigned.
  
Talvez un dia, mais forte Maybe one day, stronger
Da força ou da abdicação, In strength or in resigning,
Tentarei o alto caminho I will attempt the high road
Por onde oa Castelo vão. Which leads to the Castle.
Na sombra do Monte Abiegno. In the shadow of Mount Abiegnos.
Por ora repouso, e não. For now I rest, and do not.
  
Quem pode sentir descanso Who can feel rest
Com o Castelo a chamar? With the Castle calling?
Está no alto, sem caminho It is on high, pathless
Senão o que há por achar. Except for what I do not find.
Na sombra do Monte Abiegno In the shadow of Mount Abiegnos
Meu sonho é de o encontrar. My dream is to find it.
  
Mas por ora estou dormindo, But for now I am sleeping,
Porque é sono o não saber. Because not knowing is a dream.
Olho o Castelo de longe, I watch the Castle from afar,
Mas não olho o meu querer. But I do not watch my desire.
Da sombra do Monte Abiegno From the shadow of Mount Abeignos
Quem me virá desprender? Who will come to take me away?

 

(3 : 10 : 1932)

 

 

 

No Túmulo de Christian Rosencreutz
III

 

Ah, mas aqui, onde irreais

 

AH, MAS aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

 

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.

 

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?

 

Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Roseacruz conhece e cala.

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